Eu e minha filha de cinco anos voltávamos do cinema. Tínhamos visto o E.T. Minha filha chorava convulsivamente. Nada a consolava. Em casa, depois do lanche, para consolá-la eu lhe disse: “Vamos ao jardim ver a estrelinha do E.T.”. Fomos. Mas o céu se cobrira de nuvens. Minha mágica não dera certo. Improvisei. Corri para trás de uma palmeira e gritei: “O E.T. está aqui! Venha ver!”. Ela ficou séria e disse: “Papai, não seja bobo. O E.T. não existe...”. Respondi: “Não existe? Então, por que é que você estava chorando?”. Ela respondeu: “Por isso mesmo, porque ele não existe...”.
(ALVES, Rubem. Ostra feliz não faz pérola. SP: Editora Planeta do Brasil, 2008, p.14)