segunda-feira, 20 de abril de 2009

Percepção

(Do extinto "Casa da Infância/Spaceblog")



A percepção é um processo psicofisiológico por meio do qual o sujeito transforma as diversas impressões sensoriais (os estímulos), previamente transportados aos centros nervosos, em objetos sensíveis conhecidos. A percepção, cuja construção se inicia com o nascimento, não é uma simples soma de estimulações que impressionam os receptores sensoriais. Trata-se pelo contrário de um processo de apreensão da realidade como um conjunto de global organizado, em função dos nossos desejos, das nossas necessidades e das nossas experiências. 
Os fatores que influenciam a percepção, não se reduzem deste modo às impressões sensoriais, mas incluem um vasto conjunto de elementos que são comuns a todos os seres humanos (leis da percepção, percepção da profundidade e da distância, etc.), mas onde interferem aspectos específicos próprios de cada individuo (o estado do seu aparelho neurofisiológico, experiências anteriores, aprendizagens, etc.).
A palavra "percepção" deriva do latim perceptio, significa ação de recolher, e por extensão, "conhecimento" como apreensão. Também provém de percipere - de per e capare -, apoderar-se de algo, perceber. O perceptio do latim traduz o katálepsis do grego. Neste sentido, não coincide com a sensação, senão que a percepção é a  consciência de uma sensação ou o seu conhecimento.
Sensibilidade e Bases Neurofisiológicas

Sentidos
O indivíduo dispõe de um conjunto de órgãos específicos para captar as informações oriundas do meio ou do próprio organismo, vulgarmente conhecidos por órgãos dos sentidos. Eles asseguram as seguintes informações:
- Visão. A retina é o órgão receptor.
- Audição. O órgão receptor localiza-se no ouvido interno.
- Gosto. O órgão receptor localiza-se na parte superior da língua
- Olfato. O dispositivo receptor localiza-se nas fossas nasais.
- Tacto. Os órgãos receptores estão distribuídos pelas diferentes regiões da pele.
- Temperatura. Os receptores térmicos (sensações de frio e calor) encontram-se distribuídos por toda a superfície do corpo (pele e mucosas).
- Cenestesia. Os receptores das sensações de agrado ou desagrado sobre o funcionamento do organismo (fome, sede, falta de ar, bem ou mal estar orgânico, enfartamento, etc.) estão distribuídos pelos vários órgãos, especialmente pelo aparelho digestivo, respiratório, circulatório e músculos. 
- Dor. Os receptores das sensações álgicas ou dolorosas encontram-se espalhados por todo o organismo e são extremamente numerosos (3 a 4 milhões).
- Equilíbrio e Orientação. O órgão encontra-se localizado no ouvido interno.
- Quinestesia. Os receptores das sensações de altitude e movimento estão distribuídos pelos órgãos motores (músculos, tendões, articulações)
2. Teorias Explicativas da Percepção
2.1. Teoria Associacionista. O sujeito quando nasce é uma "tábua rasa", todas as suas percepções são adquiridas pela experiência. A percepção dos objetos, por exemplo, é o resultado da associação (ou combinação) das sensações elementares recebidas dos sentidos. Este modelo inspira-se diretamente nas teses empiristas, defendidas por filósofos como John Locke, David Hume, Condillac, Stuart Mill e outros. 
2.2. Teoria Gestaltista. O sujeito nasce já com um conjunto de estruturas inatas que submetem às mesmas os estímulos do mundo externo. As coisas e as situações, por exemplo, são percebidas como totalidades. Estas estruturas influenciam, segundo os gestaltistas, o modo como percebemos e interpretamos os diferentes elementos que as constituem.
2.3.Teoria Operatória. A percepção é o resultado de uma atividade construtiva do sujeito sobre os dados que lhe chegam do mundo exterior, na qual participam fatores inatos ou hereditários e fatores aprendidos ou adquiridos. As estruturas que possibilitam a percepção são assim resultado de uma interação entre o sujeito e o meio.
3. Leis da Percepção
As percepções do mundo, conforme os gestaltistas demonstraram obedece a um conjunto de princípios ou leis, entre as quais destacamos os seguintes:
 a) Tendência à estruturação. Nas percepções, o mundo não é apreendido como uma soma de impressões isoladas, mas sim como totalidades ordenadas. Os seus diferentes elementos são organizados em função de certas leis: proximidade, semelhança...
b) Segregação Figura-Fundo. A percepção atua de forma seletiva. Umas partes são destacadas (a figura), sendo a restantes colocadas em segundo plano (o fundo). Esta relação é sucessivamente alternada, isto é, o fundo transforma-se em figura e a figura em fundo.
c) Boa Forma. As formas simples, regulares, simétricas e equilibradas são mais facilmente percebidas que as restantes. As que surgem incompletas tendem a ser completadas pelo cérebro.
d) Constância Perceptiva (constância do tamanho, constância da forma e constância da cor). Estas persistências são explicáveis, para a maioria dos autores, como o resultado da familiaridade que vamos adquirindo com os objetos. Assim, um objeto que estamos a ver à distância como muito pequeno, não deixa de ser percebido como enorme dado o nosso conhecimento anterior do mesmo.
A explicação desta constância perceptiva não é inata como defendiam os gestaltistas, nem simplesmente adquirida como diziam os associacionistas, mas resulta de uma interação entre o sujeito e o meio (teoria operatória).
4.Mundo a três dimensões. A retina recebe os estímulos a duas dimensões, mas o cérebro cria imagens a três dimensões. Para compreendermos este complexo fenômeno temos que ver melhor como funciona o mecanismo da visão. 
O cristalino funciona como uma lente que se auto-regula conforme a distância a que estão os objetos.
Os dois globos oculares, adotam uma posição convergente quando os objetos estão a menos de 15 metros, e paralela quando a distância é superior.
Cada globo ocular fornece ao cérebro uma imagem diferente. Como há uma distancia entre os olhos (cerca de 6 cm), cada um deles fornece ao cérebro aspectos ligeiramente diferentes do mesmo objeto. O cérebro utiliza depois estas imagens para produzir uma única imagem a 3 dimensões, calculando igualmente a nossa distância em relação aos objetos. Este processo chama-se estereoscopia. 
Outros fatores que contribuem para esta percepção do mundo as 3 dimensões: as grandezas relativas das coisas, a perspectiva linear, as interposições, a distribuição da luz e das sombras, etc. 
5. Fatores de significação (Subjetividade. Estrutura dos estímulos. Experiência Anterior. Contexto social). O sujeito está permanentemente a atribuir significações particulares a tudo aquilo que observa. Os objetos pouco estruturados tendem também a provocar imagens ambíguas e interpretações divergentes. As experiências anteriores dos sujeitos influenciam profundamente a significação que os sujeitos dão as coisas que percebem. O mesmo poderemos dizer dos contextos sociais em que o sujeito vive. 
6. Distúrbios de Percepção . Ilusão. Agnosias. Alucinações.
Ilusões . As percepções estão sujeitas a certas ilusões. Podemos mesmo dizer que tudo o vemos são ilusões ópticas, pois a visão é essencialmente um processo de reconstituição da realidade no interior do cérebro, segundo certos padrões. Muitas vezes o cérebro engana-se. A s ilusões perceptivas ou sensoriais resultam duma deformação dos estímulos reais, tratam-se de erros quanto à natureza do objeto. Estas deformações resultam frequentemente da própria estrutura dos estímulos em que os objeto se enquadram, originando ilusões ópticas.
Agnosias . As lesões cerebrais que ocorrem numa área não sensitiva, podem originar uma agnosia, isto é, uma deficiência na estrutura perceptiva ou sensorial. Se a lesão se der numa área sensitiva, o resultado pode ser a perda de sensibilidade provocando a anestesia, a cegueira ou a surdez. Exemplo de um sintoma de agnosia espacial: o doente perdeu o sentido de orientação.
Alucinações . Como as agnosias resultam de fatores internos, levando doente a ter percepções sem objetos, confundindo-o com a própria realidade. Existem vários tipos de alucinações.

Fonte:  http://filotestes.no.sapo.pt/psicPercepcao.html , acesso em 6/3/2005



Nenhum comentário:

Postar um comentário